Adoção: encontro ou reencontro?

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Adoção é Amor recíproco, e o Amor tem a chancela divina, pouco importando se o filho é biológico ou não. É vontade de cuidar dos dois lados. Quem pode dizer que as relações entre pais e filhos se medem tão somente por laços genéticos?

Realmente, há momentos na vida em que por mais pacíficos que sejamos não podemos ficar inertes, sob pena de sermos partícipes da violência. Havia hoje duas senhoras na fila do mercado; uma jovem com uma criança no colo e uma outra, mais madura, que falava em um tom que me levou a deduzir ser a jovem sua funcionária e ela uma daquelas patroas que acham, entre coisas, que são donas dos funcionários. Falava alto sobre filhos, tê-los ou não tê-los, sobre adoção e “filhos ilegítimos.” Criticava severamente a jovem que, segundo ela, “achou sabe-se lá onde aquela criança e levou-a para casa sem saber nada sobre seu passado, que a criança de pele preta não poderia nunca passar por seu filho e que não poderia criá-lo porque não tinha marido” e outras coisas na mesma triste linha preconceituosa e repugnante de pensamento.

Quanto absurdo em uma mesma frase. Antes de qualquer comentário, juro por tudo o que for de mais sagrado que não existe filho ilegítimo! Todos os filhos nascidos de um casamento, de uma relação eventual ou passageira e os adotados, são legítimos! A Constituição de 1988 colocou fim à discussões inúteis e resquícios de preconceitos neste sentido. O incrível é saber que em 2015 alguém ainda precise ser avisado disto.

Agora, no tocante a filhos adotados todo o meu carinho e respeito à quintessência do Amor. Passei a olhar a cena com olhos mais atentos e vi o que aquela senhora não via por conta de sua arrogância. Vi uma mãe orgulhosa em toda sua plenitude por ter um filho no colo. Um bebê lindo com olhos grandes e redondos, brilhantes e que não passaria despercebido em nenhum lugar do mundo.

Quem pode dizer que as relações entre pais e filhos se medem tão somente por laços genéticos? O ato de adotar é tão especial que há quem diga que seria um “re-encontro” e não um encontro. Honestamente, me filio a este pensamento. Quem nunca viveu um déjá vu? uma sensação de que algo que acabou de acontecer não teria acontecido antes. Memórias presentes de situações passadas. Alguém que acabou de conhecer, mas parece que são íntimos há tempos ou em amor à primeira vista? Será que é mesmo à primeira vista? Será que são os pais que encontram e adotam os filhos? Muitas possibilidades de respostas de cunho religioso ou metafísico à todas as questões podem surgir, mas acredito que todas terão o ponto de convergência na palavra Amor.

Adoção é Amor recíproco, e o Amor tem a chancela divina, pouco importando se o filho é biológico ou não. É vontade de cuidar dos dois lados. Bem, no que tange à cor da pele, quando duas mãos se juntam, quando dois corpos se envolvem num abraço, a sombra promovida por eles é uma só. Mais do que pessoas, são almas que se entrelaçam ou que nunca deixaram de ser, uma. Espero ainda o dia em que as pessoas sejam medidas pela régua do caráter e da honestidade, e que a cor da pele, o lugar em que nasceram ou a condição financeira não tenham a menor importância.

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Sobre o autor
Antonio Marcos de Oliveira Lima

Doutorando em Direitos Humanos pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora, Argentina. Professor de direito Administrativo em graduacao e cursos preparatórios , Diretor-Geral do IBPC (instituto brasileiro de proteção ao consumidor), Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Estudo dos Direitos da Mulher, Advogado militante com atuação profissional Brasil X Portugal em Direito Civil, Direito do Consumidor , Direito Empresarial, Terceiro Setor, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Intrrnacional, Sócio de Fernandes e Oliveira Lima advocacia e consultoria jurídica. Autor de "União estável e União Homoafetiva, os paralelos e as suas similitudes"; Ed. Pasquin Jus, 2006; "Retalhos Jurídicos do Cotidiano"; 2015, Ed. Lumen Juris.

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